Aqui publicamos na íntegra a entrevista da editora da Vogue Irina Chitas, aos sócios da QuartoSala.
De seis em seis meses, voltamos a falar em Tendências em várias áreas (Moda, design, arquitetura). Na sua opinião, o termo "tendência" ainda faz sentido no que toca à decoração?
Faz e não faz. No Design de Interiores assim como em outras áreas continuam a existir linhas gerais que moldam o gosto e a apetência para o consumo. O que mudou é o significado “ditatorial” da palavra “tendências” que durante muito tempo teve um aproveitamento de certa forma "impositivo" por parte dos grandes “players” do mercado. Hoje o poder está do lado dos consumidores e assim sendo, o que passou a ser tendência é de fato um equilíbrio ou um entendimento entre o feedback que os consumidores dão sobre as suas preferências através das plataformas de comunicação disponíveis e o poder das grandes marcas. Deixou portanto de fazer sentido a expressão “ditar tendências”.
O que é que influencia mais a forma como decoramos hoje?
A decoração deixou de ser uma atividade meramente funcional para ser cada vez vez mais um movimento emocional de procura da nossa expressão individual dentro da sociedade em que vivemos. Em cada objeto que adquirimos ou que dispomos dentro da nossa casa, há cada vez mais uma busca de sentido que expresse algo de verdadeiramente individual, íntimo e único. É por isso uma manobra de libertação ao alcance das pessoas que procuram a sua individualidade tentando não ceder a padrões com os quais não se identificam mais. Por outro lado temos as nossas vivências, as viagens que fazemos e o nosso background individual que determinam a forma como lidamos com este novo ‘modus operandi’ da decoração.
Que importância teve a Internet e o instantâneo acesso a uma multiplicidade de inspirações para a maneira como pensamos a decoração de um espaço?
Desde o acesso aos produtos até à forma fácil como qualquer pessoa pode simular a decoração da sua casa em 3D, a Internet libertou-nos e abriu-nos uma auto-estrada de possibilidades. Perante toda a informação disponível somos agora muito mais seletivos e exigentes. Não queremos simplesmente ter mais “coisas” (objetos, mobiliário e tudo o que compõe e decoração). Queremos que a nossa casa seja um palco onde esses objetos ganham uma nova vida que é verdadeiramente nossa. A casa passou a ser um um palco ou um cenário permanente que diz muito sobre os nossos anseios e o lugar que queremos ocupar no mundo. Estes novos cenários que construímos diariamente dentro de nossas casas são publicados nas redes sociais de cada um, esbatendo como nunca antes as fronteiras entre o publico e o privado.
Quando olhamos para um objeto vintage - ou, até, para a forma como os objetos estão dispostos num espaço - é fácil identificar a década em que foi desenhado e, não raras vezes, a nacionalidade do designer. O que é que sente que podemos dizer "isto foi, de certeza, desenhado entre 2010 e 2020"? Ou seja, o que é que faz dos objetos criados hoje completamente únicos?
Contração e expansão são dois sinais opostos que convivem lado a lado e moldam o que poderá vir a ser determinante na identificação de um produto desta década. Por um lado alguma contenção que se reflete nas preocupações ambientais e na consciência do limite dos recursos com que continuamos a fabricar os nosso produtos. Isso reflete-se particularmente na vulgarização da tecnologia Led, especialmente visível nos produtos de iluminação. Vimos também surgir as edições limitadas de produtos feitos com materiais nobres ou raros e também o grande interesse pelas reedições da segunda metade do século XX. Por outro lado, assistimos a uma liberdade criativa sem limites onde as influências mais longínquas se fundem na conceção de produtos que exibem uma nova identidade multicultural. Num estágio mais avançado esta nova produção será totalmente liberta de constrangimentos e ficará nas mãos dos consumidores através da vulgarização da impressão de objetos em 3D. É cedo para estabelecermos com precisão os identificadores estéticos desta revolução em curso, mas alguns sinais são já evidentes.
É difícil de prever, mas, se tivesse de o fazer, o que é que diria que torna a década em que estamos única em termos de decoração e design de interiores?
Falando de Portugal e do contexto nacional, esta virá a ser a década em que, depois de uma crise prolongada, despertámos de novo para o Design cheios de esperança e otimismo. Os portugueses voltaram a interessar-se pelas suas casas e estão mais preocupados do que nunca em expressar-se através das suas escolhas. Percebemos melhor que nunca a influência que o Design pode ter no nosso bem estar e na qualidade de vida que nos pode proporcionar.
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