Adélia Borges, professora de História da Arte, curadora e escritora, acaba de lançar o livro ‘Design+ Artesanato’: O caminho brasileiro e falou com os designers de interiores da QuartoSala sobre essa obra.
Design e artesanato são cada vez mais duas disciplinas que se cruzam, completando-se. Essa é uma das conclusões a que chega Adélia Borges, autora do livro ‘Design + Artesanato’, cujo lançamento assistimos há poucos dias em S.Paulo.
Foi na livraria Casa-Museu do Objeto Brasileiro que Adélia nos presenteou com essa sua obra da editora Terceiro nome.
Que mensagem você quis passar com esse livro?
Eu quis passar uma informação abrangente da verdadeira revolução silenciosa que está ocorrendo no Brasil na revitalização de objetos, em que a inovação surge a partir das tradições locais. Além de gerar objetos muito bonitos, essas experiências estão levando a um aumento na renda dos artesãos. Eles não precisam mais migrar para as cidades grandes para ter qualidade de vida, podem permanecer em suas comunidades. Então o alcance social dessas iniciativas é muito grande.
Como eu digo no livro, em comunidades espalhadas país afora, iniciativas marcadas pelo empreendedorismo e pela inovação social trazem um novo impulso ao desenvolvimento sustentável local. E quando eu falo de artesãos, estou me referindo a grupos coletivos, reunindo familiares ou vizinhos, que produzem em série. Na Europa, nos Estados Unidos e mesmo em países do hemisfério sul, como a Austrália, nos quais já dei palestras sobre o assunto, artesanato é atividade individual de pessoas que muitas vezes foram à universidade para aprender determinada técnica. É uma realidade totalmente distinta da que se encontra no Brasil.
O retorno ao artesanato será uma tendência global no design de interiores, mas no Brasil esse diálogo (artesanato-Design) sempre existiu, concorda?
Não existiu não. A institucionalização do design nos anos 1960 se deu com base numa influência muito forte da Alemanha. Os professores das primeiras universidades de design passaram a noção da reprodutibilidade industrial do objeto como o único modo de produção legítimo. Em países como a Itália, o Japão, a Finlândia, o design se firmou a partir da tradição artesanal, mas no Brasil não foi assim que ocorreu. Aqui houve uma negação, um antagonismo.
É aliás esse vínculo que define o DNA do Design Brasileiro…
O Brasil tem dimensões continentais. Somos o quinto maior país do mundo em área territorial, são 8,5 milhões de quilômetros quadrados. Então o nosso DNA é a diversidade. A nossa identidade está calcada nessa enorme diversidade e miscigenação que encontramos nas várias regiões do país. Nesse contexto, o vínculo entre artesanato e design é, sem dúvida, um traço marcante, mas apenas um DNA, ao lado de outros.
A criação artesanal no Brasil tem contribuído para o desenvolvimento de uma economia social. Acredita que esse caminho vai crescer ainda mais no futuro?
Acredito que sim, e acho que esse caminho vai resultar cada vez mais em objetos que melhorem as nossas vidas, o que é o objetivo do design a meu ver. Nada tem sentido se não for para melhorar a vida de quem fez e de quem usa um objeto. E estou convicta de que o design artesanal – que é como eu conceituo a atividade no final do livro - tem muito futuro. Cito um grande escritor, o mexicano Octavio Paz, para falar que os prognósticos de desaparecimento do objeto feito à mão não se confirmaram. Está ocorrendo justamente o contrário: o lugar do objeto feito à mão está se expandindo na sociedade contemporânea. Esse crescimento se lastreia não mais meramente na capacidade dos objetos de atender à sua função, mas na sua dimensão simbólica.
O design tem atualmente um forte carácter emocional. A nível global, o que as pessoas buscam hoje no design?
As pessoas buscam objetos capazes não apenas de atender à função à qual se propõem, mas também capazes aportar valores que vêm sendo mais reconhecidos recentemente, tais como calor humano, singularidade e pertencimento. Ou seja, a dimensão simbólica do objeto hoje é determinante.